domingo, 28 de fevereiro de 2016

Inquietas aventuras pela caatinga de Pindorama


Inquietas aventuras pela caatinga de Pindorama

Uma viagem começa no exato instante em que se pensa em fazê-la. Pensar em lugares possíveis, sonhados em longas datas! A parte chata é pensar na grana, na possibilidade de combinar um sonho com o que se dispõem no bolso. Mas a empolgação é tamanha  que acaba-se dando um jeito.
Definida a caminhada, começa o processo de pesquisa das passagens, locais para pouso, mapas, locomoção e roteiros possíveis de devaneios.
Paragem definida: São Raimundo Nonato - PI, Serra da Capivara. Conhecer o maior sítio arqueológico do Brasil. Hummm... Algo cutuca!!! Muito bem! Nas pesquisas cartográficas  pensamos na possibilidade de uma jornada poética embalada pelo som de Sá e Guarabira: “Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado, Sobradinho...”. Os olhos em brilho e a possibilidade de arriscar e sentir de perto a cultura nordestina em torno do Velho Chico acabaram fazendo com que ampliássemos nossa rota.
  



Mapa territorial da Diocese de Juazeiro-Fonte http://santuariomaedasgrotas.blogspot.com.br/p/diocese-de-juazeiro-bahia-diocese-de.html
 



Destino inicial, Petrolina (por parecer ser mais perto de São Raimundo e mais barato do que o trajeto a Teresina). Na sequência São Raimundo Nonato, Remanso, Sento Sé (Pilão Arcado acabou ficando de fora, pela impossibilidade de acomodá-la em nossa rota, e tempo disponível).
Quarta feira, 6 de janeiro, chegada em Petrolina. O encanto com o Velho Chico já contagia. A possibilidade de atravessar a ponte que a liga até Juazeiro permite uma sensação de voo sobre o rio fantástica, voltar de barca!




Vista aérea do São Francisco – Petrolina PE




Juazeiro é uma cidade mais festeira, de dança, forró, alma do povo baiano, cantante, sacolejante, de movimento intenso em suas calçadas temperadas pelo clássico acarajé...


Juazeiro - BA


Algumas dicas legais (e para quem curte) é  conhecer o Bodódromo e experimentar a carne de Bode, e andar por suas ruas observando o bairro velho com seus casarões, que já dão espaço para a nova arquitetura vertical, na insistência de negar a sua História. Ampliar um pouquinho mais a andança e visitar a ilha do Rodeador, lazer da galera petrolinense.
Fundamental visitar os museus da cidade. Conhecemos o Museu do Sertão e um fantástico monitor, o Jailso, sabedor das lendas locais e do Cangaço. Erudito nas histórias e estórias, relatou que Petrolina porta o seu nome  por conta dos protagonistas, Pedro e Lina!


 


Museu do Sertão – Petrolina - PE




Nascida sob o nome de Passagem, seu primeiro habitante, Pedro, que expulso da fazenda Tiririca  sobe o rio de canoa, encantado com uma estranha terra, próxima ao rio e sem dono, funda ali uma Vila. Antônio de Santana Padilha narra a trajetória de forma sertaneja, o romance de Pedro e Lina. Pegando emprestada uma pequena frase: “... Nada. É apenas uma estória com ingredientes de ficção e realidade – o desejo de que tivesse acontecido assim...” Vale o deleite da leitura.
A noite é super legal passear pela orla do Chico, presenciando a cidade que caminha, aliviando seu calor, e descansando, por vezes, nos bares que a adornam e refrescam sua quentura.
Sábado, dia 9 é hora da partida, o destino, Piauí, São Raimundo Nonato. Entrar em contato com as descobertas arqueológicas da Serra da Capivara e os mistérios do Homem Americano.
Viagem um pouco longa, trecho de estrada ruim, sem acostamento, mão dupla e quase oculta, lenta velocidade. Mas o desejo era tamanho que o desconforto quase nem foi sentido.
Cansados em nossa chegança (já noite), o tempo foi para um banho, um lanche rápido e uma boa breja gelada, combustível para os caminhantes.


Domingo, 10 de janeiro, a tarefa era conseguir um guia que fosse ao encontro de nossas aspirações e inquietação de conhecer o Parque da Capivara, livro de estudos para a grande arqueóloga, Niéde Guidon, maestrina de sua existência.  Tiro certeiro! Por indicação do hotel (aliás, pessoas muito solicitas), conhecemos o Osmar, que se tornou por dois dias, amigo de longa data. De primeira, incorporou o nosso humor e tornou essa aventura muito mais agradável. É considerável conhecer o Museu do Homem Americano, e completar as preciosas informações para a caminhada no parque.
   



O Beijo – Parque Nacional da Serra da Capivara



Na pausa para o almoço, descanso e reflexões acerca das visitações, uma espiadela no trabalho artístico dos ceramistas da Serra da Capivara.




Cerâmica Serra da Capivara – São Raimundo Nonato - PI





Parque Nacional da Serra da Capivara - Sítio de Pedra Furada


A Serra Vermelha  realmente nos encantou, pela lindeza, paisagens indescritíveis, organização e claro, por ser o berço de nossa História. Tocas com a arte do homem Pré-histórico (conceito discutível), apresentando figuras de até 12.000 A.P. O local onde foi encontrada a fogueira de 50.000 anos é pura exaltação, e com a possibilidade de outra de 100.000!! Nada é determinante, há muito que se pesquisar. Fomos consagrados, no final do dia, pela extravagante imagem do Baixão das andorinhas (infelizmente, não podemos presenciar o voo quilométrico das aves a entrarem nos sulcos rochosos). O sol já no horizonte, o silêncio proporcionado pela imensidão de suas formações rochosas, foi o ponto alto do dia.





Parque Nacional da Serra da Capivara – Baixão das Andorinhas



Quarta Feira, 13 de janeiro, a tristeza nos abate. Não por finalizar essa etapa da viagem, mas por deixar pessoas que cruzaram e significaram a nossa história. Próxima paragem: Remanso e seu cais rústico, onde o gaiola nos levaria, através do insistente Chico, a Sento Sé.
Percorremos 5 quilômetros de areia, por onde dantes eram acobertadas pelo São Francisco. Ventania e chuva forte, um olhar inseguro, mas que se desfaz assim que o motor começa a bater. Travessia de uma hora e meia, com direito a bela imagem do rio.
 




Recuo do Rio São Francisco – Remanso - BA




Sento Sé  ainda traz resquícios de vilarejo, que se mistura com passos um pouco apressados de uma nova Vila, fundida com um comércio mais “moderninho”, e antigas formas de sobrevivência. Charrete que desfila movimentada por um jegue carregando leite, mercado “municipal” aberto com suas ervas, frutas e cheiros. Uma tranquila noite de chuva (saudada por seus moradores) regada a um bom papo local e Caribé, cachaça mineira, mas muito apreciada nessas paragens. O melhor: o calor de sua gente entusiasmada por nossas andanças...
 




Barca Albatroz – Travessia Remanso – Sento Sé




15 de Janeiro, sexta feira, nova caminhada: Sobradinho. Viagem longa, entre estradas de terra, mandacarus e vilarejos distantes do tempo.
A nova Sobradinho avolumou-se em torno de sua barragem. Monstro construído pela Chesf (Cia Hidro Elétrica São Francisco) e que por tempos dividiu a cidade entre a elite da usina e o povo, verdadeiros donos daquele chão. Exibe  em seus morros hélices sugadoras de vento. Moinhos agraciados por Éolo alimentam novos ofícios e expropriação do sertanejo da caatinga.
 




Barragem de Sobradinho – Sobradinho - BA



Novamente a estrada, sábado, 16 de janeiro. Destino: Petrolina, com o anseio em conhecer a última cidade traçada em nosso roteiro, Casa Nova. Porém a forte chuva impediu que atingíssemos o verdadeiro destino: as Dunas do Chico. Mas valeu o passeio, e a felicidade da gente que a ansiava.
Retorno a Petrolina, e os preparativos para o regresso a São Paulo. A saudade já bate..., mas ainda há tempo para mais algumas caminhadas e despedida da terra acalorada. Bebericar do vinho produzido no Vale do São Francisco, visitar os sebos do centro, um tempinho para pescaria e molhar os pés no Velho Chico, e claro, tomar uma boa e geladíssima periguete (cerveja) em sua orla.





Barquinha – Travessia Petrolina PE – Juazeiro BA




Terça feira, 19 de janeiro, final de viagem! Trouxemos nas mochilas, além da saudade, o gosto da aventura e o prazer de conhecer pessoas e lugares tão ímpares, que somaram a nossas existências sentido mais humanitário, pessoas essas, assinadas em nossas memórias.




Pôr do Sol Rio São Francisco- Petrolina - PE

Gratidão!

Narrativa Inquieta:
Marlene Inês Kuhnen 
Everaldo Ygor


Dicas de lugares legais e baratos para hospedagem:

HOTEL ORLA GUEST HOUSE - Endereço: - R. Francisco Bôsco Reis Nº 75  Petrolina - PE, Telefone: (87) 3861-7464 orlaguesthouse@gmail.com

HOTEL BELLA VISTA - Rua Raul Macedo, 95 - Centro - São Raimundo Nonato - PI - Brasil
(89) 3582-3499 / 9403-8000 -
hotelbellavistasrn@gmail.com

HOTEL DA GERALDA- Praça. Cel. João Nunes Sento Sé- Sento Sé- BA

HOTEL SÃO MATHEUS – Quadra S 11-Rua 5, 22 – Sobradinho-BA- Fone (74) 3538-1014.


Obs. O percurso entre Petrolina e São Raimundo Nonato, é realizado somente por uma viação, e somente em um  horário, a Gontijo, com saída as 14:00, todos os dias. Travessia da Balsa de Remanso para Sento Sé, todos os dias às 15h30min.