segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

COIVARA

FOTO: Everaldo Ygor

COIVARA

Ardor do Fogo
Queimou os vermelhos campos do coração
Fumaçou Outros Poemas
Em brasa o Arcanjo Índio observou

Lua Cheia de Instante Lucidez - Insensatez
O Tempo transpôs, tornou-se
Noites de Lua Minguante
Alumiadas pelo fogo - nuvens escuras.
Trovões & Raios
Fumaçou outras mentes
De cinzas quentes
Brasas cáusticas
De ossos envelhecidos - olhos enfastiados
Eclipsadas em Letras Ocultas
Saboreando Sortilégios Poéticos

São lápides de chama
Verticais – Horizontais
Fumaçou verdades perfídias
Vertigens & Depressões Sazonais
Matando a sede de Fogo & Cinzas

Sobraram apenas
Mandingas Antigas & Livros Velhos
A Minha, especial
Poesia Mineral...

Everaldo Ygor
Nos dias alheios de Fevereiro
Lua Cheia - Lua Minguante.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Quimera do Mar

Foto: Everaldo Ygor

Quimera do Mar
Um dia quimérico: O Mar sumiu...
Eu disse:
- Faça como o Sol, apareça!
O vento veio...

Outro dia o Mar desapareceu...
Eu disse:
- Faça como a Lua Cheia, apareça e ilumina!
Veio o Sol...

Dias outros, ele secou
Nem Sol, nem Lua, nem Mar...
Apenas o vento que vem do Norte
Via vento em meu olhar, seu
Via vento em minha face, sua
Movimento ar, armado, aéreo – vazio.

Uma gota do Mar salgado
Doce na face grita – aparece, escorre suave Mar adentro.
Ventos, pensamentos de que
Um dia estive no Mar
Mar de sonhos fixos, rodopios e lágrimas
Reles Sutis Salgadas...

Everaldo Ygor – Agosto/Setembro 2007

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

LICANTROPO

Foto: Nabucodonosor (1795) - William Blake.


Licantropo

Encontrei com ele em minhas andanças nas variantes rítmicas de Fevereiro... Ao ver a fera, tremi e vibrei estarrecido, deixei cair na vala o livro que empunhava: O Lobo da Estepe, de Herman Hesse...
Monstro de poucas falas e faces, bons grunhidos e salivações. Proximidade nem pensar, abraçar poderia custar a vida. Era assim, taciturno, peludo, olhos vibrantes, cinza, garras na mão. Um exótico e raro exemplar de mamífero da face terra, de profundos interiores mentais.
Poderia Ser aquele monstro mítico ou aquela Besta-Fera das histórias antigas, mas não... Revela-se noite no mês que míngua.
Era real, ou quase isso, Bestial por natureza, com ar angelical, aspecto estranho e curioso de anjo barroco... Que Besta! Meio homem meio animal, meio nada, uma Fera completa - qual parte sobressai no Ser, o Homem ou o Animal?
Salivando e observando tudo em noite de Lua cheia, era pesado demais, deixava marcas por onde andava, por onde arrastava a sinuosa cauda. Deixava um rastro de pêlos por onde passava. Medo impregnando as andanças da Fera transformada. Contradição perene disforme & andante da natureza.
Noites longas para sua monstruosidade, para urros noturnos, longas garras esperando pela próxima vítima, esperando em becos de tocaias urbanas, ruas de pura licantropia, bestialidade em todos os abrigos, pêlos elétricos e ouriçados com cheiro de fungo.
Como escapar do escopo das coisas, dos rastros, das Bestas, de espelhos de sombras...
Fazendo uso indiscriminado da arte do chavão e do clichê Bestial, ao caminhar encontrando espelhos em cacos e faces disformes. Só em retalhos dispersos, observo afetuosamente o reflexo oculto recortado, percebo bem que a Besta-Fera... – O Licantropo Urbano não passa de:
Eu mesmo!
Everaldo Ygor
09 & 10 de Fevereiro 2008.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ungido pelo Santo óleo da Cachaça

Foto: Les Très Riches Heures du duc de Berry Février.

Crônica dos Dias
Nos dias de cada artesão da palavra, uma falange de anjos & demônios zombeteiros passeiam dentro e fora da mente criadora. Na alegria e na tristeza ponho-me a dissertar sobre densos pensamentos, mares de lágrimas e mucosas do mês de Fevereiro. Procurando as nascentes de poesia.
Ungido pelo santo óleo da cachaça vou escrevendo os dias, cada dia sufocado pelo próprio ar, pelo espanto, pela visão lendária. Tomo desse ungüento até o dia clarear, com a esperança insana de bordar palavras em sedas claras no meu santuário sagrado de aniversário.
No auge da embriaguez poética, é possível sonhar em ver vidas e pensamentos através das tuas...
Infinitos horizontes claustrofóbicos, cheios de certezas e dúvidas, é possível ver as cores vibrantes do pensamento, nessa vigília insana eu vou, marcado pelo Arcano 22 do Tarô - O Louco. Errante peregrino vai a passos lentos, pensamento noturno de jardins do céu cada vez mais longínquos. Cambaleante artista artesão da sugestão.
Os matizes são reluzentes, porém não alegres e sim entregues, despojados das folhas em branco, das roupagens frias, emitem ecos de luz no lugar de som.
A vontade é soberana em permanecer dentro do ungüento, impele a vomitar uma seqüência frenética de palavras desconexas. Exorcizando o Arcano 22 em direção ao Mar. Os matizes pegam fogo, versos em chamas com a voz apartada da palavra final. Míope vista que não enxerga o Mar salgado, mas sente a maravilhosa lufada da brisa bendito-maldita. Desperto ao teu redor, redor de versos becos molhados, solares distantes, transpassando os horizontes agora sem ungüentos mágicos, apenas com o Máximo devaneio do doloroso e sepulcral despertar tal qual a insuportável leveza da pena.
Toda essa dissertação desencadeia uma tempestade magnética de pensamentos, ativação mental de ventos da discórdia, relembrando chagas lacrimais. Supremo é o Ser Louco completo em sua plenitude e saber, sem rimar com a vida toda, sem ritmar, sem fronteiras & sem vergonha.
A voz vaga passeia pela via, ascendendo velas, incensos e pagando promessas pelo despertar, pelo paraíso infernal de venturas e suspiros. Que eloqüência errante e sublime essa de dissertar devaneios tão sem sentido, são espelhos oblíquos, iluminados nos dias de Fevereiro.
Everaldo Ygor
03.02.2008

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Apocalyptica