Foto: Nabucodonosor (1795) - William Blake.
Licantropo
Encontrei com ele em minhas andanças nas variantes rítmicas de Fevereiro... Ao ver a fera, tremi e vibrei estarrecido, deixei cair na vala o livro que empunhava: O Lobo da Estepe, de Herman Hesse...
Monstro de poucas falas e faces, bons grunhidos e salivações. Proximidade nem pensar, abraçar poderia custar a vida. Era assim, taciturno, peludo, olhos vibrantes, cinza, garras na mão. Um exótico e raro exemplar de mamífero da face terra, de profundos interiores mentais.
Poderia Ser aquele monstro mítico ou aquela Besta-Fera das histórias antigas, mas não... Revela-se noite no mês que míngua.
Era real, ou quase isso, Bestial por natureza, com ar angelical, aspecto estranho e curioso de anjo barroco... Que Besta! Meio homem meio animal, meio nada, uma Fera completa - qual parte sobressai no Ser, o Homem ou o Animal?
Salivando e observando tudo em noite de Lua cheia, era pesado demais, deixava marcas por onde andava, por onde arrastava a sinuosa cauda. Deixava um rastro de pêlos por onde passava. Medo impregnando as andanças da Fera transformada. Contradição perene disforme & andante da natureza.
Noites longas para sua monstruosidade, para urros noturnos, longas garras esperando pela próxima vítima, esperando em becos de tocaias urbanas, ruas de pura licantropia, bestialidade em todos os abrigos, pêlos elétricos e ouriçados com cheiro de fungo.
Como escapar do escopo das coisas, dos rastros, das Bestas, de espelhos de sombras...
Fazendo uso indiscriminado da arte do chavão e do clichê Bestial, ao caminhar encontrando espelhos em cacos e faces disformes. Só em retalhos dispersos, observo afetuosamente o reflexo oculto recortado, percebo bem que a Besta-Fera... – O Licantropo Urbano não passa de:
Eu mesmo!
Everaldo Ygor
09 & 10 de Fevereiro 2008.