sexta-feira, 27 de junho de 2008

“Antigas Verves”

“Antigas Verves”

“Headpiece filled with straw”
The Holow Men
T.S. Eliot
“Das antigas”- essa é a palavra, a mim secou-me a boca, o fumo forte de corda negro de Arapiraca, o cachimbo artesanal de bambu, o chapéu de palha, os Seres hipnotizados pela velha tecnologia da foto P&B... A fumaça e seus aditivos naturais lá dentro da cabeça, no Akasha, fazem ativar lembranças das Elegias de Duíno de Rainer Maria Rilke. Escrevendo esse epitáfio, essas linhas ao som de Fela Kuti, a boca seca novamente, observo a foto calado, e ouço o vento frio anunciar a garoa na tarde bucólica dos dias de São João. São lembranças secas da vida, de fogueiras, do passado recente & antigo como deve Ser, mas novo como a aurora em sua face branca pálida rugosa e lisa... Caneca na mão, da para sentir o aroma forte do café fresco da fazenda... Óculos, sinal de miopia, hipermetropia ou astigmatismo... Espero sem pressa que as palavras encontrem seu lugar, nas flexões, nos sonhos - na beleza surreal das cadeiras de madeira, dos corpos, do chinelo de couro, da face enigmática da ausência das cores... Que os Seres da foto saiam e contem sua história, um poema desejado talvez, um olhar ao fundo da alma, do dia, da noite, que possam enfim saciar a minha sede. O que o corpo demonstra o rosto ai desconhece, observa o horizonte desconhecido que a foto não mostra jamais, mostra o colar de sândalo com cheiro da alma... Os lábios finos dizem algo inaudível aos sentidos cor de sépia.
– As mãos dadas na varanda, nessa jornada ao relento dos dedos cheios de ondas, cheios de anéis, afeição & cheios de água sangue.
O que a face dela entrega?
O que o olhar dele diz?
O que T.S. Eliot fala?
Em que época está situada na inusitada linha do tempo, em 1917 na Revolução Russa ou 1968 na utopia de revoluções inacabadas, perdidas no surreal tempo da cultura Hippie - acho que não... São personagens das Crônicas dos Dias – camponeses dispersos - andarilhos luminosos astrais, informais, até perderam o brilho e na certa foram e são Poetas. Instante volátil & infinito, faz meus olhos e ouvidos sentirem o breve cochicho dela para ele, de súbito desperto do devaneio louco, tomo mais um “tinguá” - e deslizo a mão trêmula sobre o teclado. Ao fundo um girassol - acho graça, cena forasteira, mas que foto estranha e suntuosa... Faces pela metade, corpos pendendo para os lados. E o Senhor do Tempo sempre cumprindo sua tenebrosa missão de envelhecer fotos & Seres, escritos e poemas, preenchendo espaços de saudades que não voltam mais, lento impôs ao meu Ser essa imagem terrena, nem Lua, nem Sol, entardecer em Preto & Branco Envelhecido, dentro e fora de mim, no espectro do descompasso do meu coração, assim encanta. Transcender essa desconexa redação, transformar em Poesia o que já é Poesia, é absurdo do final dos dias, talvez todas essas linhas sejam inúteis, e somente, tão somente a foto, só é - poesia original.
Mas, ao olhar mais uma vez os rostos pensativos, as nuances, a paisagem, as vestes, sombras penetrantes dessa foto canção, o coração fala das dores de Amar, armar pensamentos para viver, da beleza abstrata contida naquele instante, tranqüilidade, cumplicidade, elementos essenciais para o poetar. Sua Verve é inesquecível, motivo de adjetivos diversos - inesgotáveis para descrever os imóveis Seres de Chapéu de Palha... Enfim, podem Ser - Matamoros, da Fantasia da obra de Hilda Hilst – Tu não te moves de ti. Todas as vozes internas de homens, mulheres e fotos... Paro por aqui - depois de tanto tempo, na angústia de escrever símbolos, lutando para que outros parem de lutar, polindo o pó da estrada que impregnou as vestes negras, na emoção humilde que nada sei, senão a infindável arte de adjetivar, caminhando sempre para o encontro inevitável e inesperado com o velho e imortal Tânatos...
Janeiro até Junho de 2008 - revisado muitas, muitas vezes...
Everaldo Ygor

terça-feira, 10 de junho de 2008

Estado de Permanência

Com esse poema a trilogia do Concreto e da tensão das palavras de "1992" termina. Transportados para os dias atuais de Fenecer de “2008”. Todos ligados por um tênue fio, como o surreal cordão de prata que liga nossa alma ao corpo físico...

Permanecer imóvel

Lá as nuvens vão indo

Permanecer imóvel

As ondas rebatem no rochedo

Permanecer imóvel

As ondas recortam as areias

Permanecer imóvel

A estrela cadente rasga os céus

Permanecer imóvel

O vento

Permanecer imóvel

Os animais

Permanecer imóvel

As árvores

Permanecer imóvel

As rochas & montanhas

Permanecer imóvel

A liberdade

Permanecer imóvel

Os homens

Permanecem imóveis

As estátuas

Parecem se mover.

Do Livro Estação Liberdade (Da Existência do Ser) - 1992

De Everaldo Ygor - Poesia Concreta

terça-feira, 3 de junho de 2008

LINHAS CONCRETAS

Imagens
Observe essas linhas
Viva estas imagens
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Observe bem não é um dogma
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Agora mais uma vez
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Já está dando para perceber
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Que
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São apenas linhas...
Do Livro Estação Liberdade (Da Existência do Ser) - 1992

De Everaldo Ygor

Poesia Concreta