sexta-feira, 28 de setembro de 2007

JEAN ARTHUR RIMBAUD

JEAN ARTHUR RIMBAUD

MANHÃ
Fui eu que tive, um dia, uma juventude adorável, heróica, fabulosa, digna de ser escrita em lâminas de oiro? - excessiva ventura! Por que crime, por que erro mereço a minha fraqueza de hoje? Vós, que julgais que os bichos soluçam de dor, que os doentes desesperam, que a morte tem pesadelos, contai a minha queda e o meu estupor. Eu, não me explico melhor do que um pedinte a entaramelar Paters e Ave-Marias. Já Não sei falar! No entanto, creio ter findo hoje a relação do meu inferno. Era bem o inferno; o antigo, aquele a que o filho do homem escancarou os portais. No mesmo deserto, sob a mesma noite, sempre os meus olhos lassos se levantam para a estrela de prata, sem que os Reis da vida, os três magos, coração, alma, espírito, respondam. Quando iremos, para além dos desertos e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, a nova sabedoria, a queda dos tiranos e dos demónios, o fim da superstição, adorar - nós os primeiros! - o Natal sobre a terra! O cantar dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos a vida!
Tradução Mário Cesariny
Jean Arthur Rimbaud(1854-1891)
(Iluminações - Uma Cerveja no Inferno, Assírio & Alvim, 1999)

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